A história dos Galli, Condes della Loggia iniciou há muitos séculos na
Europa Central, descendentes do Imperador Carlos Magno, com o passar das
gerações tornaram-se uma das maiores Casas Feudais da Itália. Em 1798 o
Conde Pietro Maria Gaetano Vincenzo Gaspare Galli della Loggia alia-se
ao Imperador Napoleão Bonaparte, que torna-se Rei Napoleão I da Itália,
em troca de governar o Piemonte em nome do Imperador-Rei.
A cidade de La Loggia é uma cidade medieval anterior ao século X,
localizada na Província italiana de Turim, na Região do Piemonte, no
rico e poderoso Norte da Itália. Sempre fora Feudo de membros da Alta
Nobreza Italiana. Em 1296 é erguido na cidade o Castello Galli, marcando
que a partir daquele momento La Loggia era posse desses poderosos e
antigos Condes.
Com o passar dos séculos e das gerações, em 1789 o Rei da Sardenha
extingui os Direitos Feudais, que ligavam os camponeses à terra em que
viviam. A partir daí todos seriam livres. La Loggia permaneceu como
posse da Casa de Galli, porém com a libertação feudal o interesse da
família diminuiu muito pela Sede de seu Condado. O Castelo, antes rico e
cheio de vida, caiu no esquecimento e no abandono por longos anos. A
situação somente melhorou quando em 1880, o Conde Angelo Vittorio
Edoardo Galli della Loggia decidiu se casar, e morar no antigo Castello
Galli, em La Loggia.
Após sérias reformas o mansão novamente tornou-se digna de receber os
bailes e festas da Nobreza Italiana. Em 24 de fevereiro de 1881 o Conde
Edorado Galli, como gostava de ser chamado, casou-se com a jovem
Condessa Laura Cacherano. Do casamento nasceram dois filhos, a mais
velha, Laura Maria Concetta Galli della Loggia, e seu irmão, sete anos
mais novo, Annibale Giuseppe Giacomo Galli della Loggia.
O herdeiro, Annibale, havia demorado a nascer, mas finalmente viera em
10 de maio de 1888. Nascido no Palácio de San Massimo, em Turim, com
apenas 15 dias fora levado a viver no Castello Galli della Loggia. Pela
Lei Sálica, adotada no Reino da Itália, somente homens poderiam herdar e
transmitir títulos de nobreza. A pequena Laura havia nascido Condessa,
porém pela Lei do Reino somente manteria esse título até o casamento,
quando passaria a ter o sobrenome e o título do esposo, caso este
tivesse algum. Caso casasse-se com um plebeu, passaria a ter a mesma
condição que ele. A família assistiu com grande pesar o falecimento do
jovem Conde Herdeiro Annibale Giuseppe Giacomo, falecido apenas um mês
depois de ser levado ao Castello Galli. Sua morte era inexplicável pelos
médicos, que não compreendiam como um garoto forte, saudável, pudesse
ter definhado tão depressa.
O Conde Edoardo, pai das crianças, jamais se recuperou pela morte do
herdeiro, e morreu três anos depois, em 1891. A jovem Laura, com apenas
10 anos de idade, herdou os bens do pai, muitas terras, palácios de
campo, propriedades imensas, e é claro, o enigmático Castello Galli,
onde apesar dos protestos da mãe, continuou a residir. O título de Conde
passou a seu tio, e dele, a seu primo que vivia no Brasil, uma terra
distante que jamais Laura teve vontade de conhecer.
Com o passar dos anos os antigos membros da família foram morrendo, e em
contra partida, muitos poucos Galli nasciam. A Casa de Galli foi
extinguindo-se, e muitos de seus Castelos e Palácios foram simplesmente
abandonados ou doados à Igreja pelos sobreviventes, em geral bastante
velhos e ricos para manterem interesses por aqueles prédios antigos. Meu
tio, Conde Rafael Galli della Loggia, nascido no Brasil, em 1945, fazia
visitas constantes à Condessa Laura, em La Loggia, com o passar do
tempo os poucos parentes sobreviventes foram forçados a uma
reaproximação, já que caberia certamente o legado da Família aos Galli
que viviam na América.
Aquela parecia ser mais uma viagem, das tantas que o Conde Rafael
Francesco Augusto Galli della Loggia fazia a Itália. Seu destino já era
traçado: o avião o deixaria em Roma naquele mesmo dia, 09 de maio de
1977. No dia seguinte chegaria de trem a Milão, onde se encontraria com
representantes da família para discutir alguns inventários pendentes. No
dia 11 estaria em Turim, e de lá, de carro, venceria os 12 quilômetros
até La Loggia, afim de rever sua prima, Condessa Laura, tomar ciência de
como andavam os negócios da Casa Galli, e retornaria a Roma após dois
dias, e de lá de volta ao Brasil, fazia viagens semelhantes ao menos
quatro vezes ao ano.
Como tudo correra como o previsto, Conde Rafael chegou a Turim, onde
tomou um carro de aluguel, com motorista, e seguiu para a pequena cidade
de La Loggia. Apesar da cidade ter mais de 900 anos, somente contava
com 6 mil habitantes, ou menos, já que o nascimento de crianças não
repunha os idosos que lá faleciam. Chegou à cidade no princípio da
tarde, e pode notar algo de incomum, parecia que os seis mil moradores
do local haviam resolvido sair de casa no mesmo dia: as ruas da cidade
estavam repletas, as casas, todas fechadas, inclusive as lojas. Passando
em frente ao prédio da Câmara de Vereadores, pode notar a bandeira com o
Brasão dos Condes de Galli, que servia de pavilhão à cidade, posta a
meio mastro.