Oceano

Eu acordei em um oceano, quase sem vida em uma jangada improvisada. Meus olhos ardiam devido à luz do sol da tarde. Eu sentei devagar, meu corpo todo doendo. Eu olhei ao meu redor. Nada além de um inferno azul e o que restava do meu ofício. Não havia muitos pedaços espalhados pela área. Eu vi um corpo na água, inchado sujo. Eu não sabia quem era, era longe demais. Eu imaginei que era Luke, aquele bastardo idiota que uma vez me deu uma cerveja no pub. Poderia ter sido Michael, meu irmão de armas, juntou-se ao mesmo tempo que fiz em 86. Poderia ter sido Victor, o homem bastardo, odiado por todos o navio. Uma porra egoísta que não poderia aceitar um não como resposta. Poderia ter sido o capitão, um homem velho do mar, uma alma velha, dedicou sua vida ao mar, só para perder seu para o mar. Não ... não, não o mar. A fera. A coisa de baixo. O Leviathan, a coisa desagradável que causou a minha situação atual. A balsa em que eu estava era mais madeira se alguma coisa. Já fazia um dia desde o ataque. Minha boca estava seca, minha pele vermelha e já empolada, eu podia até sentir meu cabelo castanho loiro descolorindo do sol amaldiçoado. O sol, o sol é meu inimigo. Calor empolando em cima de mim, me secando. Eu bebo meu suor, bebo meu xixi, faço tudo que posso para afastar a boca seca. Eu não vou deixar ele me levar, como A Fera Levei minha equipe. Eu olho para o corpo e ele está mais longe agora. Adeus Luke, Michael, Capitão, até mesmo adeus, Victor. Seu bastardo.

Contra o meu melhor juízo, mergulho minha cabeça na beira, a água é fria e salgada como é, eu preciso disso. Abro os olhos na água e não vejo nada. O abismo continua no submundo, como um poço infinito de tinta. Não vejo peixe nem algas, nada. Eu não vejo A Besta, mas sei que ele me vê. O abismo encara minha alma. Sabe o que fiz. Sabe o que vou fazer. Ela me conhece melhor do que eu me vejo. Eu vejo bolhas e, de repente, minha via aérea sai. Eu tiro minha cabeça para fora da água, ofegando por respirar, apenas para engasgar com a água do mar. Eu toco e amordaço violentamente, quase sujando minha jangada sagrada com minha própria sujeira. Eu resisto ao impulso e engulo minha bile, levando-a de volta para mim mesmo. A água. A água é minha inimiga. O sol é meu inimigo. Não tenho amigos aqui fora, sou só eu. Eu contra o sol. Eu contra a água. Eu contra a besta.

As horas passam, eu entro e saio do sono. Eu vejo minha esposa. Ela é loira. Ela é bonita. Ela está morta. A última coisa que vejo antes de acordar é o cadáver dela no parque onde me propus. Seus olhos mortos olham para mim, perguntando por que. Eu não entendo Eu acordo. É noite. A lua queima tão brilhante quanto o sol. Dói olhar para. Meu cérebro bate no meu crânio em um simples olhar. Eu fecho meus olhos e os abro, determinado a ver a lua. A lua não pode ser meu inimigo. A lua tem que ser minha amiga. A noite é fria no mar. Eu olho diretamente para a lua e estou cego. Minha cabeça grita e quase desmaio de novo. Desta vez eu destruo a jangada. A bile é vermelha e volumosa. Há algo de errado comigo. Meu estômago se contorce, eu garra isso, Mas eu não consigo encontrar a fonte da minha dor. Eu resisto à vontade de olhar a lua novamente. A lua é minha inimiga. Olha para mim com olhos de julgamento, com olhos de ressentimento, com olhos de ódio, olha para mim com seus mil olhos, e agora sei por que dói olhar. Não há lua, não há sol, não há água. Eles existem apenas como vasos para a besta. 

A lua não é minha inimiga. 

O sol não é meu inimigo. 

Existe apenas a fera.

0 comments:

Postar um comentário

Seu comentário é importante e muito bem vindo. Só pedimos que evitem:

- Xingamentos ou ofensas gratuitas;
- Comentários Racistas ou xenófobos;
- Spam;
- Publicar refêrencias e links de pornografia;
- Desrespeitar o autor da postagem ou outro visitante;
- Comentários que nada tenham a ver com a postagem.

Removeremos quaisquer comentários que se enquadrem nessas condições.

De prefêrencia, comentem de forma anônima

 
 

Conscientizações

Conscientizações
Powered By Blogger

Obra protegida por direitos autorais

Licença Creative Commons
TREVAS SANGRENTAS está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

Sobre o conteúdo do blog

TREVAS SANGRENTAS não é um blog infantil, portanto não é recomendado para menores de 12 anos. Algumas histórias possui conteúdo inapropriado para menores de 14 anos tais como: histórias perturbadoras, sangue,fantasmas,demônios e que simulam a morte..