Mortes violentas

A vida é uma luta e a morte também. A menos que você tenha vivido uma boa vida e seja abençoado com um sono tranquilo e fugidio para o mundo dos mortos. Isso seria legal.

Mas a morte não é fácil. A maior parte do tempo.

É uma luta e é uma tensão, é um empurrão, um puxão, uma negação, uma luta e um chocalho para fazer com que a alma se afaste e se afaste da carapaça.

Tanto quanto eu vi de qualquer maneira.

Eu não me incomodei em chamar a ambulância quando o encontrei; Eu sabia que o cara estava morto. E eu não tinha telefone de qualquer maneira. Mesmo se eu fizesse isso teria ficado com os pertences que eu tinha debaixo da ponte.

Eu podia ouvir a pessoa que estava morrendo na boca do beco onde eu estava, gemendo, sufocando em seu próprio cuspe, engasgando com seu próprio sangue, incapaz de respirar e sair corretamente. Eu podia ouvir o silvo do ar. Eu podia ouvi-los lutando, suas unhas arranhando e lutando contra o piso de concreto que estava cheio de lixo ao redor.

As ruas de São Paulo à noite são sinistras. Cheio de horríveis possibilidades.

Olhando para o beco, acho que posso ver o anjo da morte no final, em algum lugar perto de onde a pessoa está morrendo. É uma sombra. O escuro camuflado no ar da noite. Invisível quase, mas eu posso sentir isso lá.

Eu desci devagar, tomando meu tempo. Os gemidos diminuíram e os sons desmaiaram. No momento em que eu estava lá, com ele, olhei para baixo e vi o sangue se acumulando em torno de suas roupas. Ele ainda estava segurando seu lado, ele deve ter sido esfaqueado no pulmão.

Eu olhei para ele por um tempo. Ele estava definitivamente morto. Seu peito não estava mais subindo e descendo e quando me ajoelhei em minhas mãos e joelhos, não houve respiração batendo na minha própria pele. Ele estava morto. Então enfiei a mão nos bolsos sujos e rasgados do casaco sujo e fiz uma busca.

Ele tinha em sua pessoa um pequeno pacote de especiarias. Vasculhei mais, mas não encontrei mais nada. Que pena, eu poderia ter feito com alguns cigarros. Dinheiro mesmo.

Levantando-me, olhei para os meus joelhos e vi que tinha evitado que o sangue encharcasse minhas roupas. Bom trabalho. Mas o fundo dos meus sapatos gastos estava manchado. Facilmente consertado embora. Assim que terminei, fui embora e procurei um cobre, que geralmente andava pelas ruas. Principalmente para nos dizer para foder, mas eu fui e procurei um por respeito.

"Oi!" Minha voz ecoou nas ruas vazias. Eram quase duas horas da manhã, eu acho.

Eu gritei com ele do fim da rua. Eu não queria que o porco chegasse perto demais para me identificar ou me pegar.

"Tem um cara morto lá embaixo!" Eu apontei na direção certa, certifiquei-me de que eles ouviram, e então corri.

Saí do beco, do corpo e do anjo da morte. As ruas de São Paulo à noite são sinistras, especialmente com um assassino vagabundo à solta. Eu deveria ter tido medo de me aproximar do homem morto, mas meu medo ao longo do tempo não deu em nada. Eu estou sempre entorpecido agora. Sempre. 

Para tudo. Para o frio, para o julgamento das pessoas, para implorar. Eu não tenho mais nada. Esse foi o segundo corpo que eu vi naquela semana. Mas foi a primeira vez que vi o anjo da morte. As ruas de São Paulo à noite são, como eu disse, sinistras.

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